segunda-feira, 17 de abril de 2017

9º Dia no Caminho de Santiago 2015 (Francês)


Tive uma ótima noite de sono, eu até me surpreendi, pois como cheguei muito tarde no albergue só consegui pegar uns colchões que ficavam no chão de algo que parecia o sótão, onde para entrar eu tinha que me abaixar um pouco, se não batia com a cabeça no teto do albergue. Era um pouco quente e tinha muito mosquitos, porem nada que um repelente para me ajudar a dormir, acabei achando que teria uma noite horrível devido a isso, mas pelo contrario, foi uma noite super tranquila, uma das melhores dormidas que tive durante o caminho, acordei super revigorado, e pronto para ir até Santiago.












Saindo de Los Arcos agora o meu próximo destino seria Viana onde eu passaria a noite, na verdade, eu não tinha muito em mente onde passaria a noite, eu ia curtindo uma cidade de cada vez, eu chegava em um lugar, olhava as horas e olhava as minhas condições, se estivesse cedo e o corpo estivesse bem eu ia para a próxima cidade, eu só usava o meu livro guia para ver se era muito longe os lugares antes de eu sair, não fiquei me apegando a etapas que o guia sugeria, o meu corpo fazia as etapas do caminho.
Enquanto eu caminhava eu lembrei de uma fase muito boa da minha vida, que era o tempo que eu fazia Taekwondo, era maravilhoso, os amigos que fiz, o ensinamento que eles passavam para os alunos, foi uma fase da minha vida muito boa, prometi a mim mesmo que voltaria a fazer quando voltasse para casa.

Durante o percurso algo chamou a minha atenção! Um cemitério, que tinha uma frase escrita na sua entrada que após eu ler me deixou arrepiado, e fez eu pensar um pouco sobre a vida. 




"EU FUI O QUE VOCÊ É, TU SERAS O QUE EU SOU."

Uma frase que eu nunca vou esquecer, uma frase profunda, que faz a gente pensar no que nós fazemos durante a vida, será que somente trabalhar e comprar coisas durante uma vida toda é o certo a se fazer, pagar contas, trabalhar, tirar férias, voltar a trabalhar, voltar a pagar contas...um ciclo sem fim, que só o tempo me dirá o que eu posso fazer, por isso, nesse exato momento, sigo caminhando.







Chegando na cidade de Sansol parei um pouco para descansar, tomar uma água e comer uma Madalena (bolinho delicioso) que eu tinha na mochila.





Parei perto de uma igreja onde eu podia avistar a próxima cidade, Torres del Rio, que era bem próximo. 



Achei o lugar muito legal, casas antigas, pontes mais antigas ainda, novamente achei que estava em um filme antigo, um lugar incrível, tanto Sansol quanto Torres del Rio.



Um encontro inusitado no meio da rua: 




Seguindo o caminho eu tinha dois destinos, Viana (11km) e Logroño (20km), ainda não sabia em quais dos dois ia dormir hoje, sem pressa segui a caminhada.













Mais uma subida, os meus joelhos ja estavam reclamando, eu só rezava para eles não piorarem.






Uma pausa para o lanche! 
E com pão e vinho se faz o caminho!!!
E madalenas também!!!





Durante a caminhada até Viana uma coisa deixou a minha mente inquieta, as finanças da minha caminhada, eu já havia pensado sobre isso anteriormente mas toda hora essa questão vinha na minha cabeça, eu ficava pensando se o dinheiro ia dar até o fim da caminhada, isso me preocupava muito. Eu tinha um caderno onde eu colocava todos os meus gastos do caminho, e nesse caderno eu também tinha o meu dinheiro atualizado (quanto eu ainda tinha), eu me preocupava muito também porque no meu planejamento eu achava que haveria muitos albergues paroquiais, onde funcionam por donativos, e assim eu poderia economizar, mas hoje em dia quase não existem mais albergues paroquiais, descobri que são poucos pelo caminho, e infelizmente eu levei o dinheiro contado.
Pensei comigo que a melhor maneira de economizar seria na comida, não deixando de comer, mas fazendo lanches simples e cozinhando nos albergues, decidi que o menu do peregrino eu só comeria quando chegasse em Santiago, os lanches que eu fisese no caminho seriam somente com pão, madalenas (bolinhos) e frutas. 
Depois dessa preocupação toda, resolvi esquecer isso e tentar curtir a minha caminhada.








Cheguei em Viana com muita sede, a minha água já tinha acabado, eu estava carregando uma garrafinha de 500ml e isso era pouco, então resolvi que iria em um mercado comprar um suco que a garrafa foce de 1lt, e utilizaria esta garrafa para a água.



Quando eu passei pela rua da foto acima uma coisa muito interessante aconteceu, uma senhora que estava no bar ao me avistar levantou-se da cadeira, ela não parecia uma moradora local, mas sim uma turista, e quando eu me aproximei ela levantou da cadeira e me ofereceu um chocolate, achei meio estranho isso, mas ela ficou feliz em me presentear, mesmo achando estranho eu aceitei, acho que pelo fato de eu ser um peregrino ela quis me ajudar, achei muito legal isso, a solidariedade no Caminho de Santiago é fora do comum, as pessoas ajudam umas as outras, e isso me deixava muito feliz. 


Cheguei no albergue bem cedo, mas como a próxima cidade era muito longe e meus joelhos estavam doendo de mais resolvi ficar por ali. Depois de me acomodar e tomar um banho, fui tirar uma fotos da cidade, que por sinal é linda.












































Antes de voltar para o albergue passei em um mercado e comprei um pacote de 500g de arroz, e uns legumes em conserva para eu jantar, resolvi que para não gastar muito iria levar aquele saquinho de arroz na mochila para quando eu chegasse nos albergues e não tivesse nada para comer eu comeria arroz, eu não me importava de comer somente arroz, porque eu adoro arroz! Nesse albergue que eu parei infelizmente não tinha nada na sobra, o que tinha na geladeira era dos peregrinos que ali estavam. Em todos os albergues existe um armário da cozinha ou um canto da mesma que tem coisas que alguns peregrinos não utilizaram tudo e deixam ali para outros peregrinos, como massas, arroz, farinhas, sal, entre outras coisas, e isso fazia com que eu economiza-se muito na minha janta, mas infelizmente nem todos os albergues tinham isso, como esse que eu parei hoje, então tive que comprar umas coisinhas. Mas agora como vou andar com arroz na mochila não precisarei me preocupar em comprar coisas para janta, pelo menos arroz não.



Um prato simples, mas que matou a minha fome.


Achei interessante esse quadro que tinha no albergue.
Depois de comer e mandar umas mensagens para minha família resolvi ir dormir, deixei algumas roupas secando no varal do patio para pegar amanhã pela manhã, as únicas roupas que eu lavava era minha cueca e minha meia, a minha toalha ficava secando no varal também, a minha calça e a minha camisa era difícil eu lavar.
Agora é descansar para seguir caminho no próximo dia.

continua...